sexta-feira, março 18

Para sempre



Longe é uma palavra que não existe
bem disse o poeta.

Quero-te perto
para mordiscar-te a orelha e fazer cafuné.
E quando o plano físico nos separa
invento-te a meu bel prazer
sem segredos ou mistérios.

Sempre é uma palavra que me deixa inquieta
pois que de amor bem sei
o infinito dura apenas o tempo do que é lei
e o eterno é fragmento
do mais belo segundo
em que nos amamos.

terça-feira, março 15

Além do vidro

Postado por FATIMA MOTA em 24 junho 2010 às 21:34




















Além do vidro


Meus sonhos atravessam
a empoeirada janela
espalham-se quadrados
libertos, voam ...
transgridem os pensamentos
volatizando o desejo.

O meu olhar atento
acompanha o ritmo da cidade que freme.
Teço conjecturas...
Observo ... penso...
Na diversidade de cores
nos cheiros e nos sons
que penetram-me belicosos.

Ao longe, deita-se o sol
esparramando sombras
do concreto urbano.
As andorinhas já partiram
aquela ruazinha perdeu-se
no aglomerado de passos apressados.
É quase Ave-Maria
No mar, poeta solitário
dedilha sua lira.
Horizontais ... as calçadas são leito.
Mortiços olhos fingem...
bendito fim de tarde
que encobre a solidão.
A cidade ilumina-se
distorcida pelos faróis
dos carros ... da opaca luz.
As imagens são fractais...
um quebra-cabeça
que nunca consigo completar.

É hora de saltar...

FATIMA MOTA

Meu coração primaverou


 
Sob meus pés há um tapete de flores
traçando caminho entre hortênsias azuis
margaridas e belos girassóis.
 
O sentimento retira as vestes dos pudores
desarroxeia e joga fora tudo que polui.


A saudade é uma aurora e abriga novos sóis.

A vida habita-me e polvorosa é minha cidadela
há pedregulhos e rios caudalosos, há flores no asfalto
paredes cobertas de heras. Há o outro lado da moeda.

O meu desejo por ti, esperança
e ao te avistar, este incauto coração, primavera.


Sossegam enfim... todas as esperas.
 

domingo, março 13

Inteira


De letargos ando enfastiada

Quero real figura

Sem amor abstrato

Ou traços difusos.



Minh’alma cobiça andar sem sapatilhas de pontas

E anseia desprender os muros

Soltar as teias de aranha.



Preciso namorar as palavras

Olho no olho

Com toda sua magia e tolices.



Não quero ser estatística

Nem números ímpares

Não quero ser lista

Ou complementos.



Da matemática

Só a multiplicação

De estrelas no céu

E das verdades in_sensatas.



Fátima Mota

Brincos de lua

Brinca de boneca a menina
Sem sustos, sem  pretensões
Com brincos de lua
Brinca a menina.

Sem receio
Acorda manhãs e espera
O dia entrar pela janela
Numa tentativa vã
De  se tornar temporã.


Seu corpo, ainda começos
Recato de sendas  e cismas
Acosta-se na incerteza.

De tecer fantasias brinca a menina
Desalinha a lógica
E  esquece que é hora...
Segue a colher estrelas e contar faróis.


De crescer brinca a menina
E, desatenta trama sua arte_ofício:
Caçoar  do  verbo amar
Antes que se torne vício.

FATIMA MOTA

Passando o amor a limpo


Desarrumei todas as gavetas

retirei bolores e traças
e joguei fora as memórias inúteis.

Desarranjei todas as rosas
e re_fiz meu jardim
de flores silvestres.

Desabotoei todas as casas
removi todas as teias
que arranhavam minha calma.

Desacostumei os meus vícios
e despi-me das indelicadezas
com o meu Eu.

Lustrei a alegria
rasurei as desculpas
fiz mata-borrão
dos melhores momentos.

Rascunhei a ilusão
e, do amor
guardei a versão original

Para futura averiguação.

Fátima Mota