domingo, julho 31

Camuflagem



As estações já não me  colhem   desatenta
Não me desarvoram  os quentes verões
Causticando a pele nua .

Não desapaixono nos invernos indecentes
E  desafio  a neve que  se acumula
Nas paredes do meu frágil  querer.

Quando chega o outono  coaduno   paixões inquietantes
Que se multiplicam com os fios brancos
Assentados em  minhas têmporas.

Algumas , tal folhas ao vento, deixo-as ir
Partem sem contratempos. 
Sou estacional, brinco com a camuflagem do tempo.

Nos cheiros da primavera
Afoitamente exilo as incertezas.

Desconjugo o tempo presente
Retorno à era em que ser feliz
Foi a minha in­_sensata lei.

Fatima Mota 29/07/11

sexta-feira, julho 29

Des_entendimento

Há dias que a vida brinca
de pega-pega
amar_e_linha
então saltamos entre Céu e Terra
com ares de pipas, festivais
barcos de jornal, aventura
de seda papel, quimeras em dobradura.

Há dias que a vida tá no poço
e quem for esperto encontre
o tesouro pra não levar bolo.

Dias de rotina gris e pensamentos vis.

Há dias que a lágrima seca e olho  gruda
nas teias arranhando sentimentos
outros mormaços  alagam  nascentes de correr riachos.

Há dias que a natureza é festa e tua boca mel
onde colibri bate asas de anjo caído.

Dias  de festa... dias de dor
de flor, de lis, de giz
de traços em preto e branco
e telas sem o dom do artista.
 Dias de partidas e chegadas,
estações e rodovias
aéreos portos
sem trem ou pouso.

Há dias de cantatas e  fados
De apreciar os clássicos
outros de rap_dura até a sobremesa farta.

Sei lá... de entender,  prefiro
ultrapassar momentos
quero viver todos os dias
como se fossem únicos.

segunda-feira, julho 25

Lida




Lá vem a vida
cobrando o amor
de cada dia
castrando a melodia
e esfregando na cara
as incertezas.

Lá vem o dia
cobrando a despedida
em cada verso
em atos de ousadia
mistura de quimeras
e antecipações.

Lá vem a vida
com pote sem rodilha
degustando a saliva
e tatuando escaras n’alma.

Lá vem a noite sem rebeldia
enquanto o desejo cobiça
que a dor não mate a esperança.

Fatima Mota

quarta-feira, julho 13

Tigresa

Como um gato
tinha sete vidas
e ligeiros saltos.

Transitava sem medos
e de pelo eriçado
pelo toque do vento norte.

Compunha a sua história
entre parcos olhares
e discretos calendários.

segunda-feira, julho 4

Prosaico

Viajo sob as bênçãos das estrelas


Anéis de Saturno escondem luas cheias


E me trazem á terra prometida.



 Trafego sob o manto da madrugada indolente
Os meus pés, descalços não ferem a poesia
E os meus dedos são reféns da pena que enseja o verso.

Tenho abraços que são laços
Furta cor, furta dor
E de tão lilás confundem-se
Antes do sol se por. 

Tomo assento nos teus desenhos
De um tempo rei sem muralhas
Sem relógios. Nos vidros fractais
Quebro a cabeça, sem cortes de navalhas.
 

Sem mochilas, sem avisos
Andarilho sou, vícios fatais
Indícios da prosaica poesia
Que vem de mansinho acalentar meus ais.

Fátima Mota




domingo, julho 3

Giros e rodopios


Gira feito carrossel
Uma  abelha
Em busca  de mel.

Move-se ao redor do sol
No belo jardim
Um velho girassol.

Rodopia  um beija-flor
A colher o pólen
E sugar a flor.

Entre beija-flores
E antigos girassóis
O sol desata  a  noite.

Há um tempo curto
Que na saudade arde
E habita um guardião
No vão da clara_idade

Na cama do meu peito
Um amor espera
Beijos violetas
Perdidos entre heras.

Fatima Mota

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